Hoje a noite da minha rua está calma... Nem parece ser uma noite de sábado. Nem parece ser uma rua de estudantes universitários que sempre têm o que festejar.
A temperatura está amena, nada pra fazer...
Ou melhor: ninguém quis fazer algo comigo. Minhas amizades esqueceram-se de mim.
A internet: desinteressante. A televisão com suas programações que causam retardos. Eu, como em muitos momentos, sozinha...
Odeio finais de semana! Odeio porque eles sempre me fragilizam. Porque sempre me fazem encontrar-me comigo mesma; e eu ainda não tenho estrutura.
Meus sentimentos e emoções são demasiadamente efusivos; e costumam me visitar aos fins de semana para me atormentar. Durante a semana, não me perguntes como, os oculto. É como se fosse algo que se desprendesse, mas que fosse necessária sua volta. Uma mágica que se dissipa, um encanto que vigora ao final da sexta feira. Qual bruxa terá feito tal desencanto? Carregarei minha maldição... Até que se quebre...
Odeio finais de semana por gostar demais! Tanta coisa gostosa a fazer. Tantos bares para serem bebidos, tantos sorvetes para serem tomados, tantos filmes para serem assistidos, tantas pessoas para serem vistas e sorrisos para serem dados. Mas não tenho com quem realizá-los, nenhum amor, nenhuma amiga. O sortilégio ainda não foi quebrado.
Olin me instruiu a aprender a ser feliz comigo mesma. Tento! Mas às vezes escorrem-me lágrimas...
Ele me ensinou como se ensina a andar de bicicleta:
Eu, de faces rosadas, pele branca e suada, montei toda entusiasmada. Meus cabelos ainda eram castanhos, o penteado e as roupas denunciavam infância. Tão pequena... Tão frágil e imatura, ao ponto de esquecer que se tratava de um momento metafórico.
Ele, sempre com uma feição séria e sábia, segurou no meu guidão e no selim. Me forneceu dicas de equilíbrio e me soltou... Mas esqueceu-se de me falar sobre as pedras descritas por Drummond, que sempre estarão no meio do caminho...
E ficou de pé a olhar...
Esperando que eu olhasse para trás com olhos lacrimejados, boca estremecida e joelhos arranhados.
Por que não me avisaste a queda inevitável?
Sua face, então, reverberou palavras drummondianas: A dor é inevitável, mas o sofrimento opcional.
Mesmo aprendendo com o oráculo, mesmo tendo encontrado o momento de equilíbrio, sempre terá uma pedra para nos mostrar o sabor do chão.
Ele já previa minha dor. Mas deixou doer para ver qual opção escolheria. Pois bem sabes que na vida a dor ensina mais que o amor.
Minha árdua batalha de todos finais de semana: lutar comigo mesma. Durante a semana me personifico, vou pro palco e enceno uma personagem forte, alegre, equilibrada, gentil, extremamente sorridente. Guardei minha máscara para segunda feira.
De quando em vez olho pela janela. Não sei o porquê, mas isso acalanta... É prazeroso olhar do alto pela janela. Olhar o quê?
Ah! O vento a soprar... Se há alguém a passar. Se as luzes ainda estão sendo acessas e apagadas.
O céu sempre se modificando... Como é lindo... Cores matizes sombrias e misteriosas. Como gosto de contemplá-lo! Adoro o cintilar das estrelas, gosto de vê-las, ouvi-las e entendê-las. Olavo disse quem ama é capaz! Portanto escuto-as e entendo-as.
Adoro a noite. Quem me conhece e sabe disso não sabe o quanto.
Fico tentando aprender a ser feliz comigo mesma... Mas isso é tão longínquo quando se tem intrínseco que a felicidade depende do outro. Sempre esperei e espero alguém me fazer feliz. Talvez a razão da minha tristeza... Sempre coloco o outro como fator determinante para algo que me pertence. Ou melhor, dizem que me pertence.
Em todas minhas relações sempre coloco a obrigatoriedade no outro de me fazer feliz. Esquecendo-me de que as pessoas são falhas e que elas estão conosco por interesses próprios. Uma das coisas que aprendi foi perceber que todas as relações dos seres humanos são de interesse. Você não ama a pessoa que diz amar! Você a quer por coisas que lhe são proporcionadas. O que você ama é o estado em que ficas no contato com esse outro alguém. Na verdade você ama a você mesma! O ser humano é essencialmente egocêntrico...
Sinto-me jubilosa quando tenho alguém ao meu lado. Se não, o pior dos seres. A solidão me devasta e dilacera; faz-me ver o quão é importante ver um brilho de um olhar... Quão é belo um sorriso compartilhado...
Afinal de contas, de que vale a pena ter o trabalho e a formação desejada se no final do dia ninguém te olhar de forma contemplativa?... Que valor tem um ser sem um peito para deitar e uma mão pra se afagar?...
Um olhar... Um toque... Um cheiro. Em meio à desertificação, são oásis proporcionados por esta vida.
Oásis onde quero beber, sentir e viver.