terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O deus oliN



Sensibilidade demasiada... Choro pela formiga morta.
Anísio Silva canta a cantiga de quem esta só...
Ele, ingere seu bom amigo – o tendo na mão e na cabeça. Diz-me que não sabe até quando... Mas espero, o espero.
O espero ser beijado, ser tocado por um belo corpo afro que é provido de uma inteligência ímpar. A admiro... e me inspiro. Tenho tentado aplicar suas metodologias mais notórias: aprendo a não perguntar, a não exigir, a não querer enclausurar e ser enclausurada; só para tê-lo.
Nossa, como a admiro! Essas são só algumas divindades reveladas. Uma deusa não revela as outras os poderes do seu recôndito que aprisionam um deus. Como algemar metafisicamente um pássaro? Como prender asas permitindo voo pleno e magnífico?
Como deixá-lo voar por entre floras e rios e deixá-lo conhecer flores: beijando-as, cheirando-as e possuindo-as, uma a uma?
Ele, desculpa-se... afirma querer possuir várias. Mas, não se bifurca do seu enlace, voltando sempre para sua esplendorosa flor. Como uma ave de rapina, que voa... voa... para bem longe... com toda ferocidade para rasgar corpos -  deixando marcas em nichos e voltando para o seu, levando no bico o mais precioso.
Para um ser grandioso é necessário um outro. Seria muita pretensão querer tê-lo. Um sonho... Um presente complexo a lidar. Não possuo faculdade aprimorada para tal especificidade. Reconheço minhas limitações, meu patamar.
Quando suas garras se curvarem pela ação do tempo e não mais segurá-lo. Ela, subitamente e conscientemente, às arrancará, rasgará e sangrará sua carne - dando oportunidade a vitalícias garras. Para poder obter longevidade e o prender dando liberdade.
Só ela é capaz de arrancar suas unhas e bico para melhor beijá-lo. Masoquistamente, rói sua dor para libertá-lo e o garantir no seu porvir.
A sábia edificou sua casa num mastro indestrutível.
Só para ver seus olhos abrirem-se no alvorecer... Só para envolver dedos a seus cachos, e... Cheirá-los, um a um, desejado ser seu cheiro, para permanecer ali, todo milésimo de segundo – do crepúsculo ao crepúsculo...
Tornei-me deusa a partir do momento que me tocaste.
O esplendor está onde suas mãos pousam. Só ele faz reluzir esplendorosamente uma alma fétida e obscura de dor.
Minhas condolências aos corpos que não o conheceram – lastimo por se acharem afortunadas só por terem vivido seletos momentos de amor.
Quem não o conheceu, simplesmente usufruíram réplicas – a autenticidade o deus concedeu somente as suas flores; só as deusas o conheceram.
Só suas musas sabem o que é um suspiro que expira um querer e inspira um afã...
Ouço Belchior... Seu cheiro invade-me... Nosso primeiro beijo me beija novamente... Entrego-me, pela primeira vez, ouvindo um te quero grave, que nunca fora em nenhum tempo tão eloqüente.
Entrego-me novamente pela primeira vez... Das milhões vezes. Uma vez sua eternamente sua.
Um dia sei que irás voar para outros horizontes, deixando de contemplar minha paisagem. Descarnando-me, aniquilando tudo que antepõe suas asas.
Minhas lágrimas rolam ao visualizarem o inóspito vindouro...
Ao escorrer, elas se transformam em um sangrar - vermelho quente vivo, que expira quando, através de meus pés, toca o infértil solo que seus pés deixaram de tocar.
Benevolentemente ele aniquila os brotos e a vida que desabrochava – pois, bem sabes que não existirá beleza ou sentido sem o seu astuto, doce e rude olhar.
Não aspirei tais fatalidades vindouras.
Almejei vê-lo entrar batendo a porta depois de um dia estressante.
Almejei vê-lo se despir sem nenhum problema com seu corpo, e, ter autorização para, no seu banho, poder molhar-me nas gotas que se aquecem ao escorrerem seu branco corpo.
Aspirei sentir o cheiro das roupas limpas, dobradas na gaveta.
E, depois de absorver as gotas que lhe escorem, alimentá-lo numa mesa farta, sendo meu corpo o prato principal. Permitindo-o mordiscar e possuir antropofagicamente minha carne, levando o melhor de mim, levando minha alma.
Escreveste em minha alma, agora leia e a absorva... Para que ela, lisonjeada, vague no seu incógnito ser. Sendo assim, mais uma alma em ti - misturando-se a milhões que, voluntariamente, sacrificaram-se para refugiarem-se em seu ser. Ser que as alimenta e que as fazem deusas.
Ouço vozes!...
Ouço-o sussurrando... E o visualizo no clímax proporcionado pela leitura de um livro que abomina convenções socias.
A visão mais divinal...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gotas

Algumas gotas...
Apenas o que resta.
Vinho que me embriagou
Quando lancei meus olhos em ti,
Acho que te vi.
Maldito vinho que me cegou,
Me fizera ver o firmamento em seu olhar.
Só me resta agora, algumas gotas
Em garrafa vazia...
Começo a bebê-las!
Não quero bebê-las.
Pois derramam como sangue em meus lábios,
Tem gosto da tua boca,
Cheiro do teu corpo.
E faz-me te ver, te sentir, te tocar, me tocar...
Fecho-a rapidamente!
Antes que deguste estas últimas
Malditas, benditas gotas.
Que me fazem odiar-te, querer-te...
Bebo-te!
Bebo-te!
Mas não secas; sempre ainda resta.
Lágrimas reluzem meu olhar no espelho...
Queria embriagar-me contigo.
Queria secar-te em mim.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sons de Lira

Por que querer-te?
De pétalas entreabertas, cheira a amor o teu perfume,
A maciez do teu corpo é como um vestido de seda ajustando-se ao meu corpo nu,
O sabor de toda natureza cabe em teus lábios.
Por que amar-te,
Se tens no corpo o desejo que o meu deseja?
Pra que amá-lo,
E só ouvir sons de lira quando declamares algum poema?
Foi assim que te amei!
Quando de um sonho despertei.
Quando ousei-me a dançar...
Ao som da lira que soava de tua boca...
E dancei!...
Na presença e ausência dos deuses.
Perdi-me entre as constelações,
Fiz-me estrela!
E jamais queria me encontrar...
Roubei toda beleza da natureza.
Lua, astros, estrelas - redimiram-se a mim.
Tudo me contemplava e me odiava
O mundo resumiu-se em mim.
Dancei sobre, entre a relva.
Dancei sobre as águas revoltas e pacíficas dos oceanos.
De repente!
O som parou!
Olhei de um lado a outro: solidão, escuridão.
Eu, com minhas últimas forças, levitava
Sobre o assombroso oceano.
Fitei a lua! Tentei encontrá-la!
Ela nem se importou...
Busquei nas estrelas minha salvação,
Elas apagaram-se...
Aos poucos, as águas afundaram-se em mim...
Meus olhos negros tentavam algo avistar.
Embalde...
Só existia silêncio, dor e mistério...