domingo, 3 de abril de 2011

Ao som dos bandolins

Era madrugada...
No escuro da claridade lunar um antigo e abandonado salão fazia-se imponente.
Janelas enormes de madeira deteriorada estavam abertas a todos os lados permitindo a entrada lunar.
O vento uivoso soprava para dentro os finíssimos tecidos que estavam sobrepostos à janela.
Um lustre, em meio ao silêncio, distribuía as cores da noite.
Um vento assombrado de forma grotesca abriu a quase desfalecida porta;
Seu hálito fúnebre incomodou tecidos e rangiu janelas.
Um vulto branco está prestes a adentrar.
De túnica fina e transparente, o corpo pálido e sutil pisa com maciez o cedro escuro que refletia a luz das janelas.
E centripetou-se sutilmente enquanto a sinfonia funesta iniciava-se.
Bandolins eram tocados por seres não vistos,
Não se sabe quem os tocava assim.
Sua palidez lembrava a morte, a valsa triste também.
Sua pele misturava-se ao matiz pálido de sua veste de pontas que se arrastavam como uma carícia.
Seu olhar denunciava agouro.
Seu corpo, esplendor.
E pôs-se a dançar julgando-se amada.
Ao som dos bandolins...
E por julgar-se amada deu vida ao perecido som uníssono.
Harmonicamente a valsa triste adentrava pela ação dos ventos.
Ela dançou, mesmo sendo impróprio se dançar assim...
Seus braços e pés ritmavam-se de forma tão concisa quanto o vôo de uma fada do botequim em seu mundo encantado.
E rodopiou...
Porque o mundo respirava mais quando ela dançava assim.

Um comentário:

  1. Lembrou-me algo que escrevi há poucos dias:

    Hipercorda

    "Acorda, amor, e toca para mim.
    Toca o banjo, o alaúde, toca a flauta
    Tange as cordas do Tempo, que se exalta
    a inverter sim em não, e não em sim.

    Sopra os ventos do Ser, que o Argonauta
    que navega o alto Cosmo rumo ao Fim
    que é o Espírito, faz do bandolim
    nave entre um mar de sons, faz do que é Falta

    Presença, e do silêncio faz o canto,
    para o ofertar ao deus, com seu fervor."
    "Que tem a ver o Argonauta com o acalanto

    que tu pedes pra mim?" "Tem, sim, senhor:
    o Ser, o Tempo, o Som, o Nauta e o Santo
    ondas são da Hipercorda: a corda Amor!"

    ResponderExcluir

Seja-bem vindo! E então? O que achou da postagem? Comente, discorra, opine, sejamos democráticos, sempre!