segunda-feira, 25 de abril de 2011

A importância das coisas más em nossa vida

Hoje aprendi algo intrigante sobre a importância da presença da doença, da morte, da tristeza e da solidão em nossas vidas. De antemão isso nos choca podendo até parecer um pensamento insano. Mas esse aprendizado, aparentemente louco, desmoronou uma grande parte de minhas estruturas psíquicas que estavam toscas e malformadas. Senti-me como um prédio que por ter sua estrutura comprometida fora necessário, urgentemente, uma implosão para dar lugar a uma colossal construção arquitetônica. Ficando, efemeramente, só os destroços como prova da existência daquilo que um dia fora chamado de princípios.
 A tristeza e a solidão foram fardos de peso descomunal que sempre carreguei em minhas costas. Mas hoje os pus no chão, limpei o suor da testa e remediei chagas abertas. Caminhei sobre nova estrada... Eles ficaram a me gritar com gritos malditos, me lembrando de como foram construídos, das lágrimas escorridas... Ainda parei, olhei para trás... E os vi. Não passavam de pestes, de ervas daninhas que sugavam o seu hospedeiro.
 Deparei-me diante duma nova estrada onde a entrada de fardos é terminamente proibida. Se nessa estrada só há flores e campos perfumados?
Não! Não exatamente. Nessa estrada há também um campo fétido, com doenças, mazelas e pessoas que agonizam.
Na verdade ando pela mesma estrada, mas com uma diferença brutal: não levarei mais meus fardos para as colheitas dos frutos que serão feitas no caminho. Continuarei a caminhar deixando o que é necessário deixar e só lembrando o que é necessário lembrar.
Nem a felicidade carregarei mais em minhas costas; o seu fardo fora dominante na destruição da minha estrutura dorsal. Não por ser um fardo cheio, mas por ser o maior e mais pesado - Sendo que a ideia de sua existência pesava-me mais que ambos juntos.

Quando fui posta pela primeira vez diante desta estrada me mandaram escolher dois dos infinitos tamanhos de sacos de fardos que estavam expostos. E que seriam utilizados para carregar os frutos que estão à beira da estrada. Em um seria colocado os frutos das minhas tristezas e das coisas ruins; No outro, os frutos da felicidade e das coisas boas. Erroneamente, fui muito prática em minha escolha: peguei o menor para minhas tristezas e coisas ruins e o exageradamente grande para a felicidade e as coisas boas. Não parei pra refletir, mas se tivesse parado decerto não seria diferente.
Ao longo do percurso o saco das tristezas e coisas ruins ficava mais superlotado: de lágrimas, dores, mortes e aflições. A boca do fardo mal se fechava, dando oportunidade para a tristeza e as coisas ruins me mordiscarem, me arranharem, me sangrarem as costas e perturbarem meus ouvidos durante toda a jornada. Mas herculeamente o carregava, pois meus presságios régios iriam sobrepô-los. Já o fardo da felicidade e das coisas boas - esse me pesava o seu vazio. Às vezes eu o abria cautelosamente e via coisas que me faziam sorrir e me estimulavam astutamente a seguir. Mas ele era tão grande e tão desproporcional ao seu conteúdo que dificultosamente o arrastava. Mas eu o arrastava mesmo assim, pois acreditava em seu preenchimento. E por acreditava nesse preenchimento o fardo das tristezas e coisas ruins triplicava mais e mais no seu tamanho.
Um livro me sussurrou que a criação é fruto do sofrimento. E que ostra feliz não produz pérolas. O sofrimento pode nos tornar sábios... Sussurros de palavras que devastam e renovam qualquer alma leiga que esteja a mercê dos artifícios utilizados por esta jornada. Retroativamente percebi que aqueles frutos que eu tinha e não procurava martirizavam-me menos do que a busca incessante pelos bons frutos.
Só vive triste aquele que procura a felicidade.
Agora tenho plena ciência de que foi através das tentativas de preenchimento do saco vazio, através de suas dores que eu dei forma as minhas virtudes. A busca pela felicidade me trouxe coisas ruins - mas foram essas coisas ruins que hoje me trazem a felicidade de saber o quanto preciso delas; mais que a felicidade e as coisas boas. Pois ela enobrece e a felicidade empobrece.
Quando digo que a felicidade empobrece  - refiro-me, primordialmente, a pobreza intelectual que é um dos, se não for o pior ,dos males. Aprender que o mal faz bem e enobrece e que o bem faz mal e nos empobrece é algo a se pensar. Portanto pense...
O que mais me admira é que a felicidade, sábia, sabe de tudo isso. Mas não nos conta! Ela nos deixa enxergar ao longo do caminho, no caminho de quem a busca.  
E o mais belo dessa história, aparentemente louca, é que tenho que ser eternamente grata a todas as pessoas que contribuiram para minha formação. Darei mérito aqui a todos que me abandonaram, que me causaram dor e que me fizeram sofrer. Muito obrigada!  Serei mais grata a vocês do que as pessoas que me fizeram o bem. Pois o mal é necessário para que haja o bem, assim como o escuro é necessário para que haja claridade. Sem uma a outra não existiria tal como existe.
Essas idéias me ajudam a entender e aceitar a tristeza e a solidão - Agora vejo que preciso delas para construir algo que sacie o meu sedento ser. Contudo, temo o afortunamento da descoberta. Temo que a dor e a tristeza se vá com a felicidade de entender que preciso delas.

A vida salubre aniquila o ser e torna-se insípida. A dor, o sápido da vida.

3 comentários:

  1. Perfeito! Permita-me dizer, mas, este texto também é meu, aliás, é de todos que sofrem ou já sofreram..."Perder-se também o caminho" Brilhante Lispector...
    Tb agradeço aos meus algozes, eles mal sabem o qt de bem me fizeram.

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  2. Anabel, são extraordinárias descobertas...adorei!

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  3. Esplendido, verdadeiro e sagaz. Ótima forma de pensar a vida, os caminhos que seguimos. Você tem uma visão profunda. Adorei!!!

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