segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Conspiração


Tudo conspirou...
Irradiações arderam-me a face;
Me fizeram andar sob árvores que coagiam folhas a dançar eolicamente ao meu redor.
O acadêmico tornou-se bosque encantado.
Aceitei como um convite à dança. Meus cabelos estavam soltos, minha roupa adequada, mas não podia.
Tudo conspirava.

Tive que andar apressadamente,
Borboletas pediram-me pausa. Meus olhos as viram sem ver.
Forças eólicas conspiratórias, artificiavam sutilmente.
Árvores pomposas... Flores que decoravam a grama verde tentavam embeber-me com seu perfume.
Neguei traços, neguei cheiros, neguei cores – Neguei o belo, o inspiratório.
Toda a poesia da natureza aspirava prender-me.

Meus cabelos esvoaçavam... O vento contrário à gravidade 
Pediam-me pausa para recompor-me.
Mas meu âmago tinha um destino.
Minha alma cegou minha contemplação.
Até que se cumprisse!

Apareceu-me como um sopro... como areia solta ao vento. E ardeu-me os olhos.
Não neguei nenhum traço, nenhum cheiro...
Tudo por um aceno, sem sorriso.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Encontro de Almas


Não me contive!
Mais uma vez, não me contive...
Veio-me através de sons surdos, sonoros e vibrantes. 
Quanto ardor! Em meu nome, em teu corpo.
Quantas vezes irei ressuscitá-lo?  Quantas vezes?
Evite tudo àquilo que lhe causa dor;  
O tomo em um só gole.
Minhas mãos agem a meu favor, num reflexo.
Meu corpo já não a favor;
Fisiologicamente, tornou-se necessidade.

Suas letras cheias de imagens... Cheias de febres, cheias de amor.
Para que teorias literárias? Para que explicá-lo?  
Não se pode delimitar o sublime.
Basta sentir cheiros quentes...
Ouvir sussurros ao ouvido...
Sentir borbulho de sangue efusivo...
Ver jardins que emanam flores.

Ainda sou lua, sua lua.
Olhe pela janela minha palidez...
Banho-me em um mar negro de estrelas que cintilam cores.
Mas elas não me tocam.
Minha palidez, dada por ti, tornou-se imponente.
Falta-me cor; falta-me seu toque.

Como podes dissimular ao dizer que mulheres não possuem almas
E que se possuírem estão inacessíveis aos filósofos?
Não lembras que escolheste escrever em minha alma?...
Assim jamais se apagou pela ação do tempo...
Só um filósofo a tocou... A descobriu, a inspirou, a revelou.
Conheces todas minhas faces intrínsecas,
Seu corpo as possuiu, as sorviu uma a uma com ardor...
Memorizando traços, roubando segredos, revelando laços, dispondo cores.

Sua branca palma revela...
Contornos de minha alma, lábios, olhos – marcados suavemente.
Imaturamente, negas tê-la tocado.
Em nossos momentos de fervor foi nela que tocaste com amor.
Ligando almas em única volúpia.
Fingindo um gozo - negando um encontro, uma descoberta.

Assim nossas almas tocaram-se... Tocaram-se... Amaram-se.
Demasiadamente, voluptuosamente...
Num elo de prazer, onde corpos figuram
Para almas fundirem-se.
Em uma carícia, que denominas posse.

A incúria da carne o fizera perder o encontro de almas.
O filósofo sentiu, possuiu, demarcou
E negligenciou.
Ela sempre esteve acessível ao filósofo,
Ao meu filósofo.
Ao seu toque com ardor!
 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Transfiguração



Sentada em uma arte pictórica
Fui posta em duas paisagens;
Ao enleio encantado de apáticas mariposas exteriores,
Sugando néctar de flores indolentes.

Antagonicamente, paisagens misturam-se.
Imagens nunca são imóveis,
Danças eólicas nunca se dissipam;
Transfiguram-se, sorvindo e abdicando - Tornando-se umas.

Sedentas esfinges do âmago nada têm.
Molestam flores dolores.
Numa altercação por cores.

Paisagem interior. Olhos possuídos,
Transfiguram o jardim ao nefasto – o nefasto ao jardim.
Oscilando, apagando e acendendo luzes.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Morrer para Eternizar

Nove casamentos e nove mil mulheres. Que mulher queria um homem desse pra si? Garanto que todas, sem exceção! Basta apenas conhecê-lo.

Mas não ficarei aqui exaustivamente tentando convencê-las, porque mesmo que conseguisse o convencimento não passaria de uma imagem pictórica do que ele realmente é.

Dizer que Pablo Picasso, Leonardo da Vinci e tantos outros renomados nomes da história da arte representaram fielmente em uma tela toda sua grandeza, sentimentos e emoções é um tanto inocente e imprudente, pois  suas grandiosidades estão  intrinsecamente em seus âmagos e nas pessoas que os sentiram. Suas obras foram simplesmente, pequenas demonstrações daquilo que é inefável, indizível e que não se é possível converter plenamente em linhas ou cores tingidas. Pois divindades podem ser vistas, sentidas... Mas não explicadas e representadas fielmente em traços ou cores.

Garanto que todas suas mulheres (porque sei que é assim que todas se sentem) que o conheceram consentem minha afirmação. E sei que não é correto dizer que suas mulheres o conheceram, conhecer deuses é um conhecimento que foge as nossas limitações mortais. Melhor dizer: a todas aquelas que o sentiram. Porque é a única coisa que eles nos dão e nos deixam, o sentir. E hoje, acordei sentindo no peito um esmorecer do alento das brigas unilaterais que tivemos para que não houvesse o nosso término.
Inventei de colocar o primeiro dos variados CDs que ele me deu. E... Os primeiros acordes harmônicos o fizeram adentrar pela minha sala... E permiti que ele e o cheiro de seus cabelos me invadissem... E descobri tudo aquilo que ele quis me ensinar pacificamente, mas minhas objeções não deixavam. Foi como abrir um livro e ver e ler auditivamente toda nossa história e seus ensinamentos.

Belchior testemunhou tantos momentos de primor, hoje, tem em seu timbre o poder da ressurreição. Seu carro preto ressurgiu parado em minha porta, num dia de sol com olhos misteriosos. Voltei a ver seus olhos colados ao para brisa - implorando minha subida e descida da escada milhões de vezes. Reli as mensagens em que você me pedia pra que o tirasse do vazio lugar em que se encontrava. E vi em seus olhos a tamanha saudade que sentias da cor dos meus...

Descobri que você não me deixou e que nem me abandonarás. Pois estás bem aqui, ou aonde eu estiver. Basta apertar o play ou meditar nossos momentos primorosos. Se estás comigo, não tenho mais o que temer, pois o levarei comigo até aonde a vida e a morte me permitirem ir...

Foram três meses e alguns momentos de amor e desejo efusivos. Três meses que equivalem e que descrevem o maior e mais belo sentimento que já coube em meu peito.
Não entendi e não quis a nossa separação. Você, como todas às vezes, explicava-me educadamente com palavras inteligíveis, mas que ao ouvido do meu amor eram incompreensíveis.

Seus olhos já visualizavam a perfeição e a necessidade da fotografia. Como qualquer mortal, cego diante da poesia e da filosofia: Não aceitei! Briguei! Chorei!... E me vi na plataforma da estação descrita por Rubem Alves sentindo a dor de ver você partir...
                                                        
 “A dor de quem fica é sempre muito maior... A dor da partida é maior que a dor da morte. Pois o morto foi contra vontade. Partiu me amando...”

Hoje meu amor entende. E quero, quero por o fim em toda magnificência dos momentos vividos ao teu lado. Antes que nossos traços humanos aflorem e destruam a beleza divinal de nossos poucos, ternos e eternos momentos.

                                                                   “A morte pode ser a eternização do amor. A morte fixa a bela cena, enquanto a partida destrói a bela cena.”


Tal como Aleijadinho você nos esculpiu e nos arquitetou para a morte. Pois a perfeição nada mais é que a morte. E nossa perfeição aconteceu, por isso é necessário a nossa morte – para eternizar-se. As coisas têm que serem mortas para ficarem prontas. E hoje nosso amor está morto, porque ficou pronto. Porque o pronto é o transcender do imperfeito para a perfeição.

E reconheci que há dias já estávamos mortos, há dias restava-nos apenas fotos. A morte garantiu a eternidade da nossa história através de ti. Tínhamos que terminar, pois já estávamos prontos.

O querer aos poucos se desprende de mim, nesta crônica que custa morrer. Querer aprisioná-lo em um só corpo é como aprisionar um pássaro em uma gaiola. Porque você não veio ao mundo pra ficar somente com um corpo e somente em uma alma... Assim como os pássaros não vieram para cantar para um único ser. Nenhum deus é exclusivo de um ser. Ainda existem milhões de seres o esperando, pedindo a Deus pra te encontrar, vai lá... Às conheça e as faça te sentir e existir. Não serei tão egoísta o quão queria ser, mas não tirarei a luz do universo de tantas mulheres. Vai...
Vai... Meu Mestre-Amor-Amigo.

Segue teu caminho com Deus, meu deus... E nunca se esqueça das suas flores.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A importância das coisas más em nossa vida

Hoje aprendi algo intrigante sobre a importância da presença da doença, da morte, da tristeza e da solidão em nossas vidas. De antemão isso nos choca podendo até parecer um pensamento insano. Mas esse aprendizado, aparentemente louco, desmoronou uma grande parte de minhas estruturas psíquicas que estavam toscas e malformadas. Senti-me como um prédio que por ter sua estrutura comprometida fora necessário, urgentemente, uma implosão para dar lugar a uma colossal construção arquitetônica. Ficando, efemeramente, só os destroços como prova da existência daquilo que um dia fora chamado de princípios.
 A tristeza e a solidão foram fardos de peso descomunal que sempre carreguei em minhas costas. Mas hoje os pus no chão, limpei o suor da testa e remediei chagas abertas. Caminhei sobre nova estrada... Eles ficaram a me gritar com gritos malditos, me lembrando de como foram construídos, das lágrimas escorridas... Ainda parei, olhei para trás... E os vi. Não passavam de pestes, de ervas daninhas que sugavam o seu hospedeiro.
 Deparei-me diante duma nova estrada onde a entrada de fardos é terminamente proibida. Se nessa estrada só há flores e campos perfumados?
Não! Não exatamente. Nessa estrada há também um campo fétido, com doenças, mazelas e pessoas que agonizam.
Na verdade ando pela mesma estrada, mas com uma diferença brutal: não levarei mais meus fardos para as colheitas dos frutos que serão feitas no caminho. Continuarei a caminhar deixando o que é necessário deixar e só lembrando o que é necessário lembrar.
Nem a felicidade carregarei mais em minhas costas; o seu fardo fora dominante na destruição da minha estrutura dorsal. Não por ser um fardo cheio, mas por ser o maior e mais pesado - Sendo que a ideia de sua existência pesava-me mais que ambos juntos.

Quando fui posta pela primeira vez diante desta estrada me mandaram escolher dois dos infinitos tamanhos de sacos de fardos que estavam expostos. E que seriam utilizados para carregar os frutos que estão à beira da estrada. Em um seria colocado os frutos das minhas tristezas e das coisas ruins; No outro, os frutos da felicidade e das coisas boas. Erroneamente, fui muito prática em minha escolha: peguei o menor para minhas tristezas e coisas ruins e o exageradamente grande para a felicidade e as coisas boas. Não parei pra refletir, mas se tivesse parado decerto não seria diferente.
Ao longo do percurso o saco das tristezas e coisas ruins ficava mais superlotado: de lágrimas, dores, mortes e aflições. A boca do fardo mal se fechava, dando oportunidade para a tristeza e as coisas ruins me mordiscarem, me arranharem, me sangrarem as costas e perturbarem meus ouvidos durante toda a jornada. Mas herculeamente o carregava, pois meus presságios régios iriam sobrepô-los. Já o fardo da felicidade e das coisas boas - esse me pesava o seu vazio. Às vezes eu o abria cautelosamente e via coisas que me faziam sorrir e me estimulavam astutamente a seguir. Mas ele era tão grande e tão desproporcional ao seu conteúdo que dificultosamente o arrastava. Mas eu o arrastava mesmo assim, pois acreditava em seu preenchimento. E por acreditava nesse preenchimento o fardo das tristezas e coisas ruins triplicava mais e mais no seu tamanho.
Um livro me sussurrou que a criação é fruto do sofrimento. E que ostra feliz não produz pérolas. O sofrimento pode nos tornar sábios... Sussurros de palavras que devastam e renovam qualquer alma leiga que esteja a mercê dos artifícios utilizados por esta jornada. Retroativamente percebi que aqueles frutos que eu tinha e não procurava martirizavam-me menos do que a busca incessante pelos bons frutos.
Só vive triste aquele que procura a felicidade.
Agora tenho plena ciência de que foi através das tentativas de preenchimento do saco vazio, através de suas dores que eu dei forma as minhas virtudes. A busca pela felicidade me trouxe coisas ruins - mas foram essas coisas ruins que hoje me trazem a felicidade de saber o quanto preciso delas; mais que a felicidade e as coisas boas. Pois ela enobrece e a felicidade empobrece.
Quando digo que a felicidade empobrece  - refiro-me, primordialmente, a pobreza intelectual que é um dos, se não for o pior ,dos males. Aprender que o mal faz bem e enobrece e que o bem faz mal e nos empobrece é algo a se pensar. Portanto pense...
O que mais me admira é que a felicidade, sábia, sabe de tudo isso. Mas não nos conta! Ela nos deixa enxergar ao longo do caminho, no caminho de quem a busca.  
E o mais belo dessa história, aparentemente louca, é que tenho que ser eternamente grata a todas as pessoas que contribuiram para minha formação. Darei mérito aqui a todos que me abandonaram, que me causaram dor e que me fizeram sofrer. Muito obrigada!  Serei mais grata a vocês do que as pessoas que me fizeram o bem. Pois o mal é necessário para que haja o bem, assim como o escuro é necessário para que haja claridade. Sem uma a outra não existiria tal como existe.
Essas idéias me ajudam a entender e aceitar a tristeza e a solidão - Agora vejo que preciso delas para construir algo que sacie o meu sedento ser. Contudo, temo o afortunamento da descoberta. Temo que a dor e a tristeza se vá com a felicidade de entender que preciso delas.

A vida salubre aniquila o ser e torna-se insípida. A dor, o sápido da vida.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sonhos

Sonhava em meu sonho.
Você em cima de mim adormecia...
O peso viril nem sentia.
Meus suspiros o fizeram chorar...
Suspirava porque doía,
Doía vê-lo partir de cabelos lisos e cortados com ela.
Você me olhava com olhos que me pediam sensatez e conformidade;
Meus sentimentos não poderiam ser triviais,
Nosso amor em vida proibida.
Mas você acertou em cheio a minha fraqueza.
Meu calcanhar começou a sangrar,
Esguichando minhas forças...

E deixei meu lamento gritar junto ao s estilhaços do copo lançado ao chão.
Olhos e gestos desdenhavam minha atitude.
Majoritariamente sabiam, e me julgavam silenciosamente com sentimentos vis.
Familiares que me abandonaram e familiares mortos iam contigo.
Eles, por quererem, não me viam;
Simultaneamente ao copo, gritei.
Ele gritava seus cacos perdidos;
Eu, um corpo partido.
Em meio ao enleio naquela rua
Rasgaram meu seio a unha,
Arrancaram meu órgão, meu coração.
Subitamente acordei com lágrimas escorrendo em meu pescoço.
Nunca o tinha visto chorar assim –
Nem no primeiro dia em que hipocritamente lhe disse adeus;
Fiquei assustada, não tinha poderes para consolá-lo. 
Não suspirei por um presságio dissaboroso!  
Mas sim, por ter te perdido no sonho do sonho que eu sonhava!
Suas lágrimas sentiram dor pela dor do meu suspiro de dor.
Me entenda, amor.

domingo, 3 de abril de 2011

Ao som dos bandolins

Era madrugada...
No escuro da claridade lunar um antigo e abandonado salão fazia-se imponente.
Janelas enormes de madeira deteriorada estavam abertas a todos os lados permitindo a entrada lunar.
O vento uivoso soprava para dentro os finíssimos tecidos que estavam sobrepostos à janela.
Um lustre, em meio ao silêncio, distribuía as cores da noite.
Um vento assombrado de forma grotesca abriu a quase desfalecida porta;
Seu hálito fúnebre incomodou tecidos e rangiu janelas.
Um vulto branco está prestes a adentrar.
De túnica fina e transparente, o corpo pálido e sutil pisa com maciez o cedro escuro que refletia a luz das janelas.
E centripetou-se sutilmente enquanto a sinfonia funesta iniciava-se.
Bandolins eram tocados por seres não vistos,
Não se sabe quem os tocava assim.
Sua palidez lembrava a morte, a valsa triste também.
Sua pele misturava-se ao matiz pálido de sua veste de pontas que se arrastavam como uma carícia.
Seu olhar denunciava agouro.
Seu corpo, esplendor.
E pôs-se a dançar julgando-se amada.
Ao som dos bandolins...
E por julgar-se amada deu vida ao perecido som uníssono.
Harmonicamente a valsa triste adentrava pela ação dos ventos.
Ela dançou, mesmo sendo impróprio se dançar assim...
Seus braços e pés ritmavam-se de forma tão concisa quanto o vôo de uma fada do botequim em seu mundo encantado.
E rodopiou...
Porque o mundo respirava mais quando ela dançava assim.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Crônica do Fim de Semana

Hoje a noite da minha rua está calma... Nem parece ser uma noite de sábado. Nem parece ser uma rua de estudantes universitários que sempre têm o que festejar.
A temperatura está amena, nada pra fazer...
Ou melhor: ninguém quis fazer algo comigo. Minhas amizades esqueceram-se de mim.
A internet: desinteressante. A televisão com suas programações que causam retardos. Eu, como em muitos momentos, sozinha...
Odeio finais de semana! Odeio porque eles sempre me fragilizam. Porque sempre me fazem encontrar-me comigo mesma; e eu ainda não tenho estrutura.

Meus sentimentos e emoções são demasiadamente efusivos; e costumam me visitar aos fins de semana para me atormentar. Durante a semana, não me perguntes como, os oculto. É como se fosse algo que se desprendesse, mas que fosse necessária sua volta. Uma mágica que se dissipa, um encanto que vigora ao final da sexta feira. Qual bruxa terá feito tal desencanto?  Carregarei minha maldição... Até que se quebre...

Odeio finais de semana por gostar demais! Tanta coisa gostosa a fazer. Tantos bares para serem bebidos, tantos sorvetes para serem tomados, tantos filmes para serem assistidos, tantas pessoas para serem vistas e sorrisos para serem dados. Mas não tenho com quem realizá-los, nenhum amor, nenhuma amiga. O sortilégio ainda não foi quebrado. 

Olin me instruiu a aprender a ser feliz comigo mesma.  Tento! Mas às vezes escorrem-me lágrimas...

Ele me ensinou como se ensina a andar de bicicleta:
Eu, de faces rosadas, pele branca e suada, montei toda entusiasmada. Meus cabelos ainda eram castanhos, o penteado e as roupas denunciavam infância. Tão pequena... Tão frágil e imatura, ao ponto de esquecer que se tratava de um momento metafórico.

Ele, sempre com uma feição séria e sábia, segurou no meu guidão e no selim. Me forneceu dicas de equilíbrio e me soltou... Mas esqueceu-se de me falar sobre as pedras descritas por Drummond, que sempre estarão no meio do caminho...

E ficou de pé a olhar...

Esperando que eu olhasse para trás com olhos lacrimejados, boca estremecida e joelhos arranhados.

Por que não me avisaste a queda inevitável?

Sua face, então, reverberou palavras drummondianas: A dor é inevitável, mas o sofrimento opcional.
Mesmo aprendendo com o oráculo, mesmo tendo encontrado o momento de equilíbrio, sempre terá uma pedra para nos mostrar o sabor do chão.
Ele já previa minha dor. Mas deixou doer para ver qual opção escolheria. Pois bem sabes que na vida a dor ensina mais que o amor.

Minha árdua batalha de todos finais de semana: lutar comigo mesma. Durante a semana me personifico, vou pro palco e enceno uma personagem forte, alegre, equilibrada, gentil, extremamente sorridente. Guardei minha máscara para segunda feira.

De quando em vez olho pela janela. Não sei o porquê, mas isso acalanta... É prazeroso olhar do alto pela janela. Olhar o quê?
Ah! O vento a soprar... Se há alguém a passar. Se as luzes ainda estão sendo acessas e apagadas.
O céu sempre se modificando... Como é lindo... Cores matizes sombrias e misteriosas. Como gosto de contemplá-lo! Adoro o cintilar das estrelas, gosto de vê-las, ouvi-las e entendê-las. Olavo disse quem ama é capaz! Portanto escuto-as e entendo-as.

Adoro a noite. Quem me conhece e sabe disso não sabe o quanto.

Fico tentando aprender a ser feliz comigo mesma... Mas isso é tão longínquo quando se tem intrínseco que a felicidade depende do outro. Sempre esperei e espero alguém me fazer feliz. Talvez a razão da minha tristeza... Sempre coloco o outro como fator determinante para algo que me pertence. Ou melhor, dizem que me pertence.

Em todas minhas relações sempre coloco a obrigatoriedade no outro de me fazer feliz. Esquecendo-me de que as pessoas são falhas e que elas estão conosco por interesses próprios. Uma das coisas que aprendi foi perceber que todas as relações dos seres humanos são de interesse. Você não ama a pessoa que diz amar! Você a quer por coisas que lhe são proporcionadas. O que você ama é o estado em que ficas no contato com esse outro alguém. Na verdade você ama a você mesma! O ser humano é essencialmente egocêntrico...
Sinto-me jubilosa quando tenho alguém ao meu lado. Se não, o pior dos seres. A solidão me devasta e dilacera; faz-me ver o quão é importante ver um brilho de um olhar... Quão é belo um sorriso compartilhado...

Afinal de contas, de que vale a pena ter o trabalho e a formação desejada se no final do dia ninguém te olhar de forma contemplativa?... Que valor tem um ser sem um peito para deitar e uma mão pra se afagar?...
Um olhar... Um toque... Um cheiro. Em meio à desertificação, são oásis proporcionados por esta vida.

Oásis onde quero beber, sentir e viver.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O deus oliN



Sensibilidade demasiada... Choro pela formiga morta.
Anísio Silva canta a cantiga de quem esta só...
Ele, ingere seu bom amigo – o tendo na mão e na cabeça. Diz-me que não sabe até quando... Mas espero, o espero.
O espero ser beijado, ser tocado por um belo corpo afro que é provido de uma inteligência ímpar. A admiro... e me inspiro. Tenho tentado aplicar suas metodologias mais notórias: aprendo a não perguntar, a não exigir, a não querer enclausurar e ser enclausurada; só para tê-lo.
Nossa, como a admiro! Essas são só algumas divindades reveladas. Uma deusa não revela as outras os poderes do seu recôndito que aprisionam um deus. Como algemar metafisicamente um pássaro? Como prender asas permitindo voo pleno e magnífico?
Como deixá-lo voar por entre floras e rios e deixá-lo conhecer flores: beijando-as, cheirando-as e possuindo-as, uma a uma?
Ele, desculpa-se... afirma querer possuir várias. Mas, não se bifurca do seu enlace, voltando sempre para sua esplendorosa flor. Como uma ave de rapina, que voa... voa... para bem longe... com toda ferocidade para rasgar corpos -  deixando marcas em nichos e voltando para o seu, levando no bico o mais precioso.
Para um ser grandioso é necessário um outro. Seria muita pretensão querer tê-lo. Um sonho... Um presente complexo a lidar. Não possuo faculdade aprimorada para tal especificidade. Reconheço minhas limitações, meu patamar.
Quando suas garras se curvarem pela ação do tempo e não mais segurá-lo. Ela, subitamente e conscientemente, às arrancará, rasgará e sangrará sua carne - dando oportunidade a vitalícias garras. Para poder obter longevidade e o prender dando liberdade.
Só ela é capaz de arrancar suas unhas e bico para melhor beijá-lo. Masoquistamente, rói sua dor para libertá-lo e o garantir no seu porvir.
A sábia edificou sua casa num mastro indestrutível.
Só para ver seus olhos abrirem-se no alvorecer... Só para envolver dedos a seus cachos, e... Cheirá-los, um a um, desejado ser seu cheiro, para permanecer ali, todo milésimo de segundo – do crepúsculo ao crepúsculo...
Tornei-me deusa a partir do momento que me tocaste.
O esplendor está onde suas mãos pousam. Só ele faz reluzir esplendorosamente uma alma fétida e obscura de dor.
Minhas condolências aos corpos que não o conheceram – lastimo por se acharem afortunadas só por terem vivido seletos momentos de amor.
Quem não o conheceu, simplesmente usufruíram réplicas – a autenticidade o deus concedeu somente as suas flores; só as deusas o conheceram.
Só suas musas sabem o que é um suspiro que expira um querer e inspira um afã...
Ouço Belchior... Seu cheiro invade-me... Nosso primeiro beijo me beija novamente... Entrego-me, pela primeira vez, ouvindo um te quero grave, que nunca fora em nenhum tempo tão eloqüente.
Entrego-me novamente pela primeira vez... Das milhões vezes. Uma vez sua eternamente sua.
Um dia sei que irás voar para outros horizontes, deixando de contemplar minha paisagem. Descarnando-me, aniquilando tudo que antepõe suas asas.
Minhas lágrimas rolam ao visualizarem o inóspito vindouro...
Ao escorrer, elas se transformam em um sangrar - vermelho quente vivo, que expira quando, através de meus pés, toca o infértil solo que seus pés deixaram de tocar.
Benevolentemente ele aniquila os brotos e a vida que desabrochava – pois, bem sabes que não existirá beleza ou sentido sem o seu astuto, doce e rude olhar.
Não aspirei tais fatalidades vindouras.
Almejei vê-lo entrar batendo a porta depois de um dia estressante.
Almejei vê-lo se despir sem nenhum problema com seu corpo, e, ter autorização para, no seu banho, poder molhar-me nas gotas que se aquecem ao escorrerem seu branco corpo.
Aspirei sentir o cheiro das roupas limpas, dobradas na gaveta.
E, depois de absorver as gotas que lhe escorem, alimentá-lo numa mesa farta, sendo meu corpo o prato principal. Permitindo-o mordiscar e possuir antropofagicamente minha carne, levando o melhor de mim, levando minha alma.
Escreveste em minha alma, agora leia e a absorva... Para que ela, lisonjeada, vague no seu incógnito ser. Sendo assim, mais uma alma em ti - misturando-se a milhões que, voluntariamente, sacrificaram-se para refugiarem-se em seu ser. Ser que as alimenta e que as fazem deusas.
Ouço vozes!...
Ouço-o sussurrando... E o visualizo no clímax proporcionado pela leitura de um livro que abomina convenções socias.
A visão mais divinal...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gotas

Algumas gotas...
Apenas o que resta.
Vinho que me embriagou
Quando lancei meus olhos em ti,
Acho que te vi.
Maldito vinho que me cegou,
Me fizera ver o firmamento em seu olhar.
Só me resta agora, algumas gotas
Em garrafa vazia...
Começo a bebê-las!
Não quero bebê-las.
Pois derramam como sangue em meus lábios,
Tem gosto da tua boca,
Cheiro do teu corpo.
E faz-me te ver, te sentir, te tocar, me tocar...
Fecho-a rapidamente!
Antes que deguste estas últimas
Malditas, benditas gotas.
Que me fazem odiar-te, querer-te...
Bebo-te!
Bebo-te!
Mas não secas; sempre ainda resta.
Lágrimas reluzem meu olhar no espelho...
Queria embriagar-me contigo.
Queria secar-te em mim.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sons de Lira

Por que querer-te?
De pétalas entreabertas, cheira a amor o teu perfume,
A maciez do teu corpo é como um vestido de seda ajustando-se ao meu corpo nu,
O sabor de toda natureza cabe em teus lábios.
Por que amar-te,
Se tens no corpo o desejo que o meu deseja?
Pra que amá-lo,
E só ouvir sons de lira quando declamares algum poema?
Foi assim que te amei!
Quando de um sonho despertei.
Quando ousei-me a dançar...
Ao som da lira que soava de tua boca...
E dancei!...
Na presença e ausência dos deuses.
Perdi-me entre as constelações,
Fiz-me estrela!
E jamais queria me encontrar...
Roubei toda beleza da natureza.
Lua, astros, estrelas - redimiram-se a mim.
Tudo me contemplava e me odiava
O mundo resumiu-se em mim.
Dancei sobre, entre a relva.
Dancei sobre as águas revoltas e pacíficas dos oceanos.
De repente!
O som parou!
Olhei de um lado a outro: solidão, escuridão.
Eu, com minhas últimas forças, levitava
Sobre o assombroso oceano.
Fitei a lua! Tentei encontrá-la!
Ela nem se importou...
Busquei nas estrelas minha salvação,
Elas apagaram-se...
Aos poucos, as águas afundaram-se em mim...
Meus olhos negros tentavam algo avistar.
Embalde...
Só existia silêncio, dor e mistério...